quinta-feira, 14 de abril de 2011

O amor inclusivo e o sistema inquisidor.


O texto que posto a seguir é de autoria de Roni Coelho. Recomendo a leitura, reflexão, esse texto é pra gente liberta em sua conciência, por isso leia e reflita! E desde já: Pabéns Roni pelo texto.

Já há muito tempo gostaria de ter escrito esse texto, porém, a incompreensão da qual seria alvo, me fez adiar essa decisão, no entanto, aqui estou eu, selecionando cada palavra, revisando cada vírgula, para tentar ser o mais claro possível no meu pensamento. Farei um esforço hercúleo para ser objetivo e ao mesmo tempo compreendido, nesse assunto que há muito tempo tem sido muito polêmico.



Aqueles que me lêem com o desejo de compreenderem, curiosos, ou então assim como eu sedentos da Verdade do evangelho merecem meu respeito e minha translucidez nas linhas que se seguirão. O restante, os inquisidores, os religiosos, os “fiscais da verdade divina”, a esses não me preocupo em ser claro, pois o que irão ler foge em muito do seu estreito corredor dogmático, portanto, peguem suas pedras e as atirem sem muito critério como costumam fazer.


Sou constantemente questionado sobre qual seria minha divergência com o sistema eclesiástico e com a teologia evangélico-calvinista. Dentre muitos, há um ponto na filosofia cristã moderna que me incomoda diretamente. O Deus absoluto que pensa através de absolutos! Explicarei:


Dia desses vi uma cena, que com certeza foi uma das cenas mais marcantes e triste que já presenciei, estava passando a trabalho por uma praça e vi dois policiais algemando, com muito esforço uma pequena mulher que gritava , chorava e tentava se livrar das mãos de seus algozes. A cena já seria deprimente e triste o suficiente, senão fosse seus dois filhinhos de aproximadamente, 6 e 4 anos aos prantos gritarem desesperadamente pela mãe que se debatia no chão. O menorzinho ainda soqueava chorando as pernas do policial que simplesmente ignorava sua presença e sua dor.


Pensei comigo tentando justificar a brutalidade do que havia presenciado, qual seria o delito que aquela pobre teria cometido? Talvez um roubo para sustentar o vício, talvez um furto para dar de comer aos pequenos... não sei. No entanto, a lei estava sendo cumprida! Imponente! Absoluta! Sem levar em consideração o sofrimento da mãe nem o trauma dos filhos. Afinal, Lei é Lei!


Isso me traz a mente outra cena... também de uma mulher, pega em adultério flagrante e trazida a público por seus julgadores para a pena já decretada: A morte! Colocam-na aos pés de um Deus, mas não um deus qualquer, um Deus que tinha em sua própria essência o maior dos sentimentos, um Deus para o qual existia somente um único absoluto: O amor! E, diante desse absoluto, tudo o que se tinha até então por absoluto se relativizava: a lei, os profetas, os dogmas, o templo... até mesmo a morte!


A diferença entre essas duas mulheres foi a autoridade sob a qual estava sujeitas no momento de seus julgamentos. Enquanto a lei observa normas de conduta, o amor manifesta a compaixão.


Passaram-se dois mil anos, e criou-se um sistema que, muito embora reivindique para si ser representante d’Aquele Deus de Amor, está cheio de normas de conduta, leis e dogmas que regem e arbitram sobre tudo e todos (ou quase todos) sem levar em consideração caráter, motivos, sentimentos, fraquezas, carências e dores.


Temos um sistema (pois me recuso a chamar isso de igreja) que pratica e ensina seus membros a praticar julgamentos baseados no que passa através da retina, ou então, num falso moralismo hipócrita que diverge em muito do Evangelho de Cristo.


Absolutistas, criaram um trilho religioso, onde o que arbitra são suas regras. Converse 5 minutos com qualquer membro do movimento chamado evangélico e ouvirá ele afirmar com uma certeza precisa, quem irá para o inferno e quem merecerá o céu, o que é pecado e o que não é, o que pode ser feito e o que não pode, como Deus age em determinadas circunstâncias e como Deus age em outras, se você fazer assim... Deus faz assado, Deus pensa isso, a respeito de tal assunto, Deus gosta disso e não gosta daquilo outro...

Incrível como não sabemos prever as reações de pessoas tão próximas de nós em diferente situações, mas conseguimos (pensamos que conseguimos) mapear o comportamento da divindade. Criamos regras para o jogo (o nosso jogo) e sujeitamos Deus a elas! Ridículo!


Tive uma pessoa da minha família sujeita a uma “inquisição” na qual foi declarada pecadora (e quem não é?) por ter participado de um evento secular, sim, o sal foi condenado por não estar dentro do saleiro! E como punição, não poderá mais participar do grupo de coreografia do qual fazia parte por um período pré-estabelecido... por Deus? Não, não... por aqueles que a julgaram.


O sistema é inflexível! Imponente! Absoluto! Não se pode dar o luxo de amar e simplesmente amar, não se pode dar o luxo de ter compaixão e misericórdia, muito menos de pensar!


De qual demônio surgiu a idéia luciferiana de que podemos julgar o próximo sem conhecer o seu coração? Que “igreja” é essa que distribui veredictos? Que se proclama a voz de Deus ao invés de ser sua simples seguidora?


Quero o Deus de amor, humanizado na pessoa de Cristo, que tocava cada ser humano com ternura.
Que colocava crianças no colo e dizia: Dos tais é o reino de Deus!
Que relativizou as verdades da religião.
Que curou no sábado.
Que enalteceu a fé de um centurião pagão.
Que posou na casa do publicano Zaqueu.
Que comia com prostitutas e ladrões.
Que foi chamado de beberrão e glutão pelos religiosos.
O Deus que não impôs quem Ele era, antes perguntava “- E vós, quem dizeis que eu sou?”
O Jesus que nunca disse o que podia e o que não podia ser feito. Nunca criou regras.
Quero o Deus que exortou aqueles que se aproveitavam da fé para enriquecer.
O Deus que não teve receio de ser tocado por uma mulher impura.
Que teve seus pés lavados pelas lágrimas de uma prostituta.
O Deus que foi julgado pela religião e declarado culpado.


Olhando para tudo isso, chego a seguinte conclusão:


Um sistema que não regateia seus rigores está muito distante daquele Deus de amor!


Roni Coelho

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto. Concordo em gênero, número e grau. Parabéns pela coragem de se libertar da doutrina dos "já-estou-no-céu" sem beber da água dos "se-quiser-vou-pro-céu". Busque sempre o equilíbrio meu irmão.

    www.merocristianismo.com

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