terça-feira, 30 de agosto de 2011

“Nós” sem “nós”, atados por dentro.

O texto que segue abaixo é de autoria do Minorulandia, adoro texto assim, sempre que leio coisas nesse contexto me remeto a uma reflexão do privilégio da nossa existência, um brinde a vida - "tim-tim"


“Sem ti, correrá tudo sem ti.” Fernando Pessoa.


Arrepiado ouvi essa frase algumas dezenas de vezes. Na voz de Paulo Autran, um texto grande, coeso e assustador. Eu dirigia. Me inquietei. Ai me entristeci. Só então tive tempo para desenvolver.
Não somos tão indispensáveis como pensamos. Não somos vanguardistas como pensamos, tão pouco orientadores daqueles que vêm como nos julgamos. Sem nós, correria tudo sem nós.
Existiria sim grande desconforto por parte dos mais próximos. Choro e vela em algumas casas. Banhos longos àquele que nos amavam. Mas... por alguns dias. As pessoas sempre morreram. Sempre se foram. Sempre deixaram de ser o que outrora foram e na verdade são é “uma sequencia de deixamentos”. Veja por exemplo o mês seguinte a um enterro. Praticamente todos os que lá choraram já estão bem! Já foram a uma churrascaria! Talvez um ou outro demore um pouco mais, mas não chega muito mais longe. A saudade, ainda dolorosa, passa a ser pontual e vai se evaporando até se conformar em assunto esporádico à mesa. Eu não sou indispensável.
...
Comecei então a pensar pelo outro lado, o de quem fica. Não sou eu mais o morto, mas o vivo que continua.
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Negativo. Pessoas como minha mãe, meu avô... meus tios... a Vó. Meu Deus, a Tuca. São sim insubstituíveis. São elementos que fazem de mim não alguém melhor. Muito além isso. Fazem de mim, Eu. Imerso em todas as minhas variações. Eu sou a soma deles. Sou o resultado do tempo que eles dispensaram a mim. Sem eles eu seria outro. Logo, este Eu que voz fala não estaria! Sim! E esses quando se forem, caso se vão antes de mim, eu sentirei muito mais do que com um choro. Poderei sim ainda ser um bom profissional. Um bom pai. Um bom músico. Mas serei gradativamente, outro. Pois aqueles que me fazem assim como sou, não estarão mais. Eu só existo por estes, e todas as suas variações.
Para ser o que sou preciso deles. Isso os faz indispensáveis. Percebi então que o que faz as pessoas únicas não é o que elas são, mas o que eu sou por causa delas. Não o que elas produzem ou tem, mas apenas aquilo que elas geram em mim. As pessoas indispensáveis são apenas as que geraram vida. Não nelas, mas nos outros.
Tudo então ficou bem. Cheguei em casa. Por dentro e por fora. E em paz, dormi um pouco atarde e fui dar minhas aulas...

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